terça-feira, 7 de maio de 2013

Mala Noche, 1985, Gus Van Sant



Mala Noche
★★★★
Estados Unidos da América, 1985, 16mm, pb, 75min
Gus Van Sant

O filme de estréia de Gus Van Sant preescreveu alguns dos principais conceitos do cinema independente norte-americano, que sempre destacou a importância do roteiro e dos atores, deixando de lado outros aspectos importantes envolvidos na produção de um filme. Gus Van Sant trabalhou para uma agência de publicidade para conseguir financiar o filme e com 25 mil dólares, dirigiu o filme independente Mala Noche em 1985. Rodado em 16 mm e em p&b, o filme, baseado no livro de poe­mas de Walt Curtis é centrado na figura do jovem Walt Curtis (Tim Streeter) dono de uma mercearia decaída no subúrbio de Portland, Oregon, que se apaixona por Johnny (Doug Cooeyate), um imigrante mexicano clandestino.


O elenco formado por atores amadores, a iluminação precária e as imagens nem sempre impecáveis, não diminuem a qualidade do filme. Muito pelo contrário, o filme nos pega em cheio pela liberdade narrativa apresentada. Somos introduzidos ao filme com a frase 'If you fuck with the bull, you get the horn' que traduzindo para o português, literalmente, podemos interpretá-la como 'se você fode com o touro, você é chifrado', em seguida ouvimos o desabafo de Walt sobre a atração pelo jovem mexicano Johhny, que está sempre em companhia do seu amigo Roberto, também imigrante. Com isso, Gus Van Sant acompanha com maestria as tentativas de Walt em seduzir o rapaz, contudo a atração se torna um amor obsessivo não correspondido. Johnny, por sua vez, não é homosexual, mas é incapaz de frear seu admirador, foge de Walt durante o dia, mas a noite vai para a cama com ele. Trata-se de uma tensão sexual não resolvida que impulsiona as tentativas frustradas de Walt. Curiosamente, as únicas imagens coloridas do filme se dão quando Walt filma Johnny e seus amigos andando pelas ruas de Portland, ou seja, é no olhar do personagem sobre seus amigos que a vida tem cores.


É impressionante como os protagonistas portam-se à vontade diante da câmera, fortalecendo as aspirações e conflitos que carregam consigo: da obsessão, atração físisca à incomunicabilidade provocada pelas barreiras linguísticas e sociais, mas principalmente pela forma como cada um deles experimenta sua sexualidade. 
Voltando à frase inicial, pode-se concluir que Johnny é o touro e Walt o 'chifrado'. Este nunca terá seu desejo contemplado com reciprocidade. Um aspecto curioso focado pelo filme é que Van San não esconde as relações complexas que se desenrolam no convívio entre os personagens e o resultado das mesmas, ou seja, as inquietações, tristezas, alegrias, sofrimentos e desesperos provocados principalmente pelo personagem principal. Van Sant nos torna cúmplices de tais situações, entretando não nos induz soluções, assim como a complexibilidade do amor.

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