Santiago (Santiago)
★★★★★
Brasil, 2007
João Moreira Sales
Em 1992, o cineasta João Moreira Salles, irmão de Walter Salles e filho do banqueiro e ex-ministro Walther Moreira Salles, empenhou-se em fazer um documentário sobre Santiago Badariotti Merlo, um mordomo, de origem italiana, dono de uma memória prodigiosa e vasta cultura que guardava nas lembranças o brilho das festas e recepções oferecidas pelo pai do realizador. Santiago trabalhou na casa da Gávea, a mansão de uma família muito rica e influente, onde o herdeiro dos Salles morou até os 20 anos e que hoje abriga o Instituto Moreira Salles, uma sede de referência para a fotografia e para a música no Rio de Janeiro.
O realizador percebeu a singularidade do homem já aposentado que viria a ser o personagem de seu filme em 1992. Santiago vive em um estreito apartamento do Leblon, no Rio de Janeiro, distante do esplendor dos luxuosos banquetes e grandes concertos que participara em um passado remoto. No seu humilde aposento leva uma vida solitária entre as 30 mil páginas que escreveu relatando os dramas e vidas de mais de 500 anos de nobrezas e dinastias de todo o mundo.
No mesmo ano, João Salles abandona o filme e só o retoma em 2005, entretanto, agora é ele quem se torna o protagonista. O filme é narrado em primeira pessoa, na voz do irmão, Fernando Moreira Salles e exibe todo o processo usado para fazer o filme em 1992. João explica detalhadamente como planejava construir o documentário apontando a câmera para Santiago e para a mansão onde o realizador cresceu. O documentarista descontruiu seu proprio documentário, revelando todos os cortes e desmascarando todos os seus mecanismos utilizados, sobretudo, como uma autocrítica do seu modo de conduzir o documentário década e meia atrás.
Em 2005, o resultado apresentado exprime a conscientização de um erro. Salles conseguiu retratar sua distância do antigo mordomo - ao que atribui suas inerentes posições de ex-patrão e ex-criado. O mordomo se apresenta como um personagem-objeto sempre ao fundo sendo constantemente manipulado no que dizer e como se posicionar. Toda essa errônea abordagem é explícita pelo diretor que usa o material completo que seria cortado na edição, os erros de Santiago durante as falas e re-takes, enquanto a construção de seu material é questionada com a narração off feita pelo irmão, que indaga quanto à veracidade dos fatos que o documentário trás.
À vista disso, Santiago pouco se trata do ex-mordomo da família Salles. O documentarista trata do retrato de um erro, da consciência da perda de uma oportunidade única, já que não há mais como Salles reencontrar Santiago, que falecera logo depois das filmagens. Em 1992, quando teve a oportunidade, encarou-a com esteticismos e enquadramentos que quase perdiam Santiago ao fundo, não lhe dando a chance de expressar seus sentimentos e de ser ele mesmo na frente da câmera.
Santigo nunca foi o verdadeiro alvo da câmera, João Moreira Salles não procurava um personagem de seu passado para retratar, mas uma figura-chave que o guiasse para suas lembranças. O desejo de encontro com tudo que acontecera na casa da Gávea é buscado através do mordomo, um guia norteador que como ninguém, tinha vivo na memória um passado distante que jamais esquecera.
Santigo nunca foi o verdadeiro alvo da câmera, João Moreira Salles não procurava um personagem de seu passado para retratar, mas uma figura-chave que o guiasse para suas lembranças. O desejo de encontro com tudo que acontecera na casa da Gávea é buscado através do mordomo, um guia norteador que como ninguém, tinha vivo na memória um passado distante que jamais esquecera.
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