Vidas Amargas
★★★★★Estados Unidos da América, 1955, cor, 115 min.
Elia Kazan
Vidas Amargas, com direção de Elia Kazan e baseado no bestseller 'A Leste do Éden' do escritor americano John Steinbeck é um dos maiores exemplos de romances transformados em grandes obras cinematográficas. Além disso, a obra é a primeira da tríade inesquecível de filmes que criaram o legado de James Dean no cinema e a primeira indicação póstuma ao Oscar. James Dean brilha como uma verdadeira estrela nessa obra, um dos três filmes que teve papel de destaque antes de morrer apenas com 24 anos.
O título e o enredo do filme
fazem referência a uma das histórias mais antigas do mundo encontrada no livro
do Gênesis, se trata da história de Caim e Abel onde Caim mata o irmão Abel e é
exilado em uma terra ao 'leste do paraíso. Na primorosa adaptação de Elia Kazan
para o livro de John Steinbeck podemos
encontrar diversos elementos similares na história, mas de certa forma mudando
a história da bíblia, já que não é uma história de 'bem e mal'.
O filme se passa no início do envolvimento dos Estados Unidos na primeira
guerra, no vale de Salina, em Monterey, na Califórnia e mostra a disputa do
jovem Cal Trask (James Dean) com seu irmão Aaron (Richard Davalos), pelo amor
do pai, Adam Trask (Raymond Massey), fazendeiro e colhedor de
alfaces. Os dois cresceram sem a mãe, acreditando na história contata pelo pai
de que a mãe morrera, entretando Cal descobre que a mãe está viva. Mas a
história centra-se apenas na briga entre pais e filhos, diferente do livro que
decorre gerações de duas famílias da Guerra Cívil à Primeira Guerra Mundial.
Kazan excluiu boa parte da obra para gerar maior dramaticidade demonstrando uma
época onde a adaptação não significava necessariamente contar a exata história
original.
Os irmãos, além de disputarem
o afeto do pai, disputam também o amor de Abra (Julie Harris), que oficialmente
é a namorada de Aaron, mas prefere o jovem e misterioso Cal. O pai, católico
fervoroso, tem Aaron como o filho bom e Cal como filho mal, já que este lhe
representa a imagem da mãe, mulher que abandonou a família para se livrar de
uma vida limitada nas mãos do marido em um sítio, para ganhar a vida no próprio
negócio, um prostíbulo em Monterey, próximo de Salinas, onde o rancho se
localiza. Lembrando que tudo isso ocorre em uma América rural de 1917. Não por simples coincidência,
os nomes dos personagens são semelhantes aos personagens bíbicos de Adão e seus
filhos Caim e Abel. Cal, assim como Caim na bíblia é consumido pelo ciúmes
devido a preferência do pai pelo filho exemplo, mas ele também é guiado pelo
desejo de melhorar a vida da família e enfrentar a verdade que seu pai e seu
irmão tem medo de encarar.
Apesar de profundo e frequentemente teatral, é nítida a habilidade do diretor Elia Kazan como cineasta. As composições de Kazan são tão significativas quanto as atuações. É possível dizer que no livro de Steinbeck, Kazan encontrou reflexos de sua própria relação conturbada com o pai, ajudando a dar ao filme grande intensidade. Diferente do que há na bíblia, baseada em concepções religiosas e em idéias fixas sobre o bem e o mal, Vidas Amargas propõe uma ação psicológica das complexas relações humanas, onde as pessoas e as histórias podem mudar.
A estréia de Vidas Amargas em março de 1955 no Astor de Nova York